
Capitão Sérgio Macaco
Cavalcanti da Gameleira, autor do texto a seguir, é historiador.
O cenário estava todo montado para a condução coercitiva do
ex-presidente Lula. Ao melhor estilo OBAN, efetuou-se o sequestro ao
final da madrugada; “Nacht Und Nebel” – Noite e Nevoeiro: esse era o
dístico dos “Einsatzgruppen” das SS nazistas, quando saíam a cumprir a
sua nefanda missão de eliminar adversários políticos protegidos pelo
breu das horas mortas.
Cenário midiático, bem entendido; talhado sob medida para expor à
execração pública o homem que resgatou a autoestima do Brasil e de seu
povo. Avisadas com antecedência, equipes de profissionais dos principais
meios de comunicação do país, articulados com setores golpistas
enquistados no aparelho de Estado, já estavam a postos em São Bernardo
do Campo. Lá se iniciaria o Auto de Fé, com o herege impenitente sendo
conduzido na carroça, digo, camburão, até o aeroporto de Congonhas. Lá o
aguardavam outras equipes dos orgãos de imprensa, para os quais
vazaram, convenientemente, informações privilegiadas que davam conta da
prisão iminente do mito.
Escolta-se a Esperança para a sala VIP do aeroporto, transmutada em
dependência da Polícia Federal. Inicia-se lá o interrogatório do D.
Sebastião dos pobres, do redentor da Pátria humilhada. No hangar ao
lado, um jatinho esperava para conduzi-lo à República de Curitiba, onde
se daria o “grand finale”: sob o espocar de fogos de artifício,
disparados por incendiários notórios da República, o sentenciado
vestiria o sambenito e a Nação, ofuscada pelo brilho dos “flashs”, o
veria ser tragado para os porões sombrios da Guantánamo meridional. Sua
imagem política, esquartejada e salgada, seria declarada infame por
várias gerações; sua “raça” exterminada. Solução Final.
Mitos, porém, conservam como característica uma extraordinária
capacidade de conservação; são por assim dizer indestrutíveis, pois
estão enraizados no inconsciente coletivo de toda uma população. O que a
República do Galeão não conseguiu fazer com Getúlio Vargas em 1954, a
República de Curitiba – temporariamente sediada em Congonhas – também
não lograria alcançar com Lula em 2016. Ambos encarnam as Forças Vivas
da Nacionalidade; nos momentos de maior perigo para o Brasil, elas são
conjuradas e se manifestam na emergência de um Herói Providencial,
expressão menos de um voluntarismo individual do que de uma vontade
coletiva assumida por uma personalidade singular.
A história sem dúvida tende a se repetir, nem sempre como tragédia ou
farsa – como pensava Marx – mas principalmente pela revelação de Ciclos
Criativos. A mesma Aeronática, que patrocinou a aventura golpista da
República do Galeão, seria redimida posteriormente pela eclosão, dentro
de seu núcleo institucional, de dois dos principais Heróis Providenciais
do Brasil Contemporâneo, um e outro interpretes de um anseio coletivo
mais profundo de fazer do Brasil uma Pátria verdadeiramente livre e
soberana. Um deles foi o Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o
Sérgio Macaco. O outro seria aquele enérgico Coronel de Congonhas cujo
nome ainda não veio à lume e que, segundo consta, impediu à frente de um
pelotão armado que Lula fosse embarcado no jatinho para Curitiba.
Claro que se trata de duas situações de ordem de grandeza muito
diferentes. Em 1968 o Capitão Sérgio recusou-se a cumprir ordens do
Brigadeiro João Paulo Moreira Burnier – então Chefe de Gabinete do
Ministro da Aeronáutica – no sentido de que fosse o PARASAR, uma unidade
de elite da FAB , utilizada na consumação de atentados terroristas. O
principal deles previa a explosão do Gasômetro do Rio na hora do “rush”,
vitimando cerca de 100 mil pessoas. Sérgio Macaco viu sua carreira
militar destruída e sofreu perseguições ao longo de sua vida, encerrada
precocemente em 1994. Morreu como um herói ético; evitou um horror que
mancharia para sempre a memória brasileira: muito teríamos de purgar até
ressignificá-la.
O obscuro Coronel de Congonhas, sem nome conhecido – ainda -, não se
destacou por épica intervenção que, a exemplo daquela do Capitão Sérgio,
salvaria milhares de seres humanos da morte. Seu papel – a se
confirmarem as versões de que dispomos – se limitou a resgatar de um
sequestro jurídico-midiático um ex-presidente do qual, sequer, consta
que tivesse a sua vida ameaçada. Nem por isso a atitude daquele oficial
superior se reveste de menor heroicidade.
Com a sua oportuna intervenção – e a despeito de suas motivações
íntimas para tal ato, que desconhecemos – o Coronel pode ter abortado,
naquele momento, o golpe em curso contra a Liberdade e a Soberania
brasileira. Foi o ato de um patriota.
Deu uma sobrevida fundamental a Lula e ao projeto de Nação a que se
filiam todos os nacionalistas e desenvolvimentistas desse país. O combate
ainda não chegou ao fim, e o exemplo daqueles dois heróis da FAB nos
fala a respeito do imperativo ético de resistirmos ao golpe, sob pena de
vermos o prometido País do Futuro enxovalhado aos olhos do mundo. Tal
não ocorrerá; o Brasil é muito maior do que aqueles que pretendem
inviabilizá-lo. Nossa Alma Coletiva vela por nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário